sexta-feira, 15 de abril de 2011

Reflexões sobre a inclusão dos surdos na educação

Observa-se que, diversas têm sido as formas de realização da inclusão. Porém, é inegável que a maioria dos alunos surdos sofreu uma escolarização pouco responsável. No seu artigo “Educação de surdo no ensino regular: inclusão ou segregação?”, Dorziat afirma que tratar sobre inclusão sem considerar as possibilidades de desenvolvimento dos indivíduos e de sua participação, como cidadãos, não passa de retórica. Segundo a mesma, tratar sobre inclusão significa levar em conta os diferentes modos de vida, que vão desde as condições materiais até as formas de organização presentes em cada grupo.
Comenta que com relação aos alunos surdos, em geral, a recomendação de inclusão tem levado em conta sua forma de comunicação: a língua de sinais. Todavia, diz que os surdos são pessoas que possuem diferentes formas de vida material e representam diferentes papéis sociais. Então, para que a inclusão deste sujeito ocorra, ela mostra que são necessários se atentar para três critérios. O primeiro está relacionado com a interação através da língua de sinais.
Segundo ela, forma viso-espacial de apreensão e de construção de conceitos é um dos aspectos mais importantes, responsáveis pela formação da comunidade surda, e o que gera uma cultura diferente: a cultura surda. Completa dizendo que, quando se aborda a inclusão, a valorização da língua de sinais para os surdos é uma das questões essenciais, como possibilidade de igualdade de condições de desenvolvimento entre as pessoas. Contudo, o uso dessa língua, apesar de critério básico, não deve ser visto como a solução mágica para a inclusão social dos surdos e para todos os problemas que se apresentam no ensino.
Dorziat defende então que, a exclusão social só pode ser enfrentada, através de uma educação engajada e atenta, que busque entender, além de fatores de ordem individual, os desdobramentos da educação, no âmbito das discussões da educação como um todo, considerando as esferas mais amplas da Sociedade.
Já no segundo critério, trata a respeito da valorização de conteúdos escolares. Menciona nesta paret, que no processo de construção dos surdos, o papel da escola é relevante, como uma das principais unidades representativas da estrutura social maior. Todavia, para Dorziat analisar as questões educacionais implica necessariamente considerar a história dos conflitos de classe, raça, gênero e religião, em diversos países do mundo, em contradição com as suas exigências sociais.
Entretanto, a autora chama atenção para o ponto de que no discurso de valorização de conteúdo não está contido uma volta ao estilo de passar o ponto, que atropela as diferentes formas de elaboração cognitiva dos alunos e sua diversidade cultural. Ao contrário, considera a aquisição crítica e profunda do conhecimento, tendo em vista o tempo e o espaço social a que se destina, como critério para uma educação de qualidade que objetive, sobretudo, uma participação ativa e transformadora na sociedade.
Ela menciona também, que as pessoas surdas, com maior nível de gravidade, têm sofrido também as conseqüências da política educacional em vigor, que se mostra democrática e culturalmente vinculada, quando se trata da defesa dos interesses do próprio sistema existente. Segundo, Dorziat elas sofrem duplamente os preconceitos sociais: são vistas como deficientes, como incapazes, por não se moldarem (pelo menos aparentemente) às exigências do mercado. São, na sua maioria, oriundas das classes populares menos informadas, menos servidas de saúde básica e, por isso, mais suscetíveis de contraírem os males causadores da surdez (quando a causa não é hereditária).
Defende, que cabe aos profissionais envolvidos no ensino de surdos o compromisso de procurarem mudar o quadro caótico atual, através da discussão, implantação e implementação de propostas político-pedagógicas. Pois, pra ela, não é mais possível aceitar que persista o tratamento preconceituoso e estigmatizante conferido aos surdos entre os próprios profissionais da área. Contudo, faz-se necessário transformar as escolas em verdadeiras instituições de ensino, com todos os direitos e deveres que essa entidade exige.
O terceiro e ultimo critério para a inclusão segundo Dorziat é a relação conteúdo-cultura surda. Menciona que, o ensino não é isento de influências e de manipulações, que atendam a determinados grupos sociais. Entretanto, defende que para que o conhecimento seja tomado como uma síntese entre saberes gerais, teorias científicas e saberes locais, inter-relacionados, é preciso não confundir cultura culta com cultura dominante e pôr em questão a lógica crescente, da pedagogização, dos esquemas classificatórios .
Afirma também que, para que se criem situações em que os alunos sejam realmente “ouvidos”, é necessário, cada vez mais, que a escola se perceba como detentora de responsabilidades pedagógicas específicas. É através desse trabalho, fundamentalmente pedagógico, que se pode vislumbrar resultados positivos e exeqüibilidade de ações. Além disso, que generalizações tendem a ser corriqueiras. Elas acontecem também em relação aos alunos surdos, prejudicando uma visão mais realista, em que cada pessoa, independente de ser surda, apresenta determinadas características de personalidade, produto de seu trajeto histórico-econômico-social.
A autora chama atenção para o fato de que, o conflito interno, presente em qualquer agrupamento de pessoas, pode estar levando alguns surdos a se isolarem, junto a pares surdos mais próximos. Essa não é a solução para que se conquistem espaços sociais, nem para que se mude a mentalidade do próprio surdo e da sociedade em geral, frente ao fenômeno da surdez. Porém, que a união dessas pessoas em torno de Associações deve ser incentivada. Pois, segundo ela é nas Associações que os surdos podem encontrar meios mais apropriados de redirecionarem os rumos da escola, de imprimirem e imporem sua perspectiva surda, de organizarem novos ambientes discursivos.
Para Dorziat, a incapacidade do homem em valorizar as diferenças gerou uma variedade de insatisfeitos que estão numa busca constante de estereótipos, de modo a se adaptarem, em contradição, muitas vezes, com suas peculiaridades. De acordo com ela, na vida dos surdos o ser sempre foi relacionado ao ouvir, ao falar e, em conseqüência, a tudo que estas habilidades representavam: ser inteligente, ser educado, ser maduro. Vários desses estereótipos têm contribuído para reforçar os valores ouvintes e sufocar formas de expressão da cultura surda.
Contudo, deve-se favorecer o aprendizado do indivíduo surdo utilizando a língua de sinais, se ao iniciar o trabalho de inclusão esta não for possível, utilizar todos os recursos de comunicação (não simultaneamente), para que a partir destes tenha-se a certeza de que o surdo adquiriu o conhecimento.
Autor: Messias L. Soares.
Referência:
“Educação de surdo no ensino regular: inclusão ou segregação?”, de Dorziat. Disponível em: http://WWW.sj.ifs.edu.br/ñepes/docs/midiateca_artigo/inclusao_educacao_ssurdo/texto72.pdf. Acessado em 22/03/2010.

Um comentário:

  1. Olá,Messias!

    Parabéns pelo texto. Estou com saudades...
    Abraços calorosos... Leaci

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